Ativista, influenciadora, estudante e atriz: Ellie Makuxi do Movimento Indígena para as telas da TV
- Cacos

- 30 de mai. de 2023
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Jovem militante do movimento indígena de Roraima foi uma das protagonistas na série Falas da Terra, histórias (Im) possíveis da Rede Globo

Nos últimos meses deu no que falar sobre a pessoa de Glaucielly Gomes de Castro, ou simplesmente Ellie Makuxi, que desde mais jovem é ativista indígena. Tem atuado como influenciadora digital, é estudante de jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e o trabalho mais recente foi como atriz. Ela estreou nas telas da TV brasileira na TV Globo no dia 17 de abril na semana dos Povos Indígenas sendo umas das protagonistas na série “Falas da Terra - Histórias (Im) possíveis” interpretando Luara, juntamente com as atrizes Dandara Queiroz (Josy) e Isabela Santana (Michelle).
Quem ver uma pessoa humilde, alegre e sorridente, não imagina quais dificuldades que a jovem Ellie Makuxi passou durante sua vida, principalmente nas escolas da cidade onde estudou e sofreu preconceitos por ser indígena. Ela desde criança mora em Boa Vista. Mas sua família é da região da Raposa, comunidade Xumina, no município de Normandia, onde grande parte da família são professores. Ellie diz
A vida dessa jovem na infância foi viver a rotina entre cidade e comunidade ou comunidades, como ela mesma explica. “Antigamente minha avó sempre ficou em vários lugares, uma hora estava no Xumina, outra hora na comunidade Boca da Mata. Inclusive meu RANI (Registro Administrativo de Nascimento Indígena) foi tirado por lá. Ou então lá pelo Sucuba.”
Até então, Ellie Makuxi ainda não frequentava o Movimento Indígena e tinha pouco conhecimento das lutas. Mas as coisas mudaram quando completou 15 anos e foi morar com sua tia, a professora Gleide Ribeiro, a qual a jovem tem como mãe. Foi quando conheceu mais de perto a verdadeira luta dos povos indígenas e começou a frequentar as mobilizações e assembleias que eram promovidas pelas lideranças do Estado. Ela conta também que aprendeu muita coisa, graças à irmã, Glycya Ribeiro. Conta
“Quando era criança eu não participava do Movimento Indígena, porque não tinha como ir. Fui morar com minha tia quando tinha 15 anos e a partir de então foi quando comecei a ficar atuante. Comecei a fotografar, gravar vídeos e tudo isso eu aprendi com minha irmã Glycya, que sempre me ensinou. Ela sempre foi muito boa nisso, principalmente em rede social e então vendo tudo isso me inspirei nela para fazer o meu também.”
Em 2019, Ellie Makuxi entrou para o curso de Comunicação Social - Jornalismo. Mas antes de escolher para qual área prestar o vestibular, a indígena contou com um grande apoio da irmã. E o jornalismo foi uma escolha com o pensamento de ajudar não somente a si mesma, mas especialmente o povo indígena. Ela comentou
“Quando foi para escolher minha faculdade, conversei com minha irmã, porque ela sempre foi uma pessoa que me orientou muito e disse que eu poderia fazer algo por mim ou algo pelo meu povo. Foi quando pensei em jornalismo. Então o jornalismo veio assim no sentido de dar mais visibilidade para os povos indígenas. Era uma coisa que eu achava muito legal, escrever, falar, fotografar e usar tudo isso em prol das nossas causas e das nossas pautas.”

A representatividade no audiovisual brasileiro
Para fazer parte da série, Ellie conta que a equipe da produção a chamou pela rede social Instagram. O contato surgiu por conta que ela e a irmã faziam vídeos e publicavam falando sobre diversos assuntos. Ela destacou
“Me mandaram mensagem e me convidaram para fazer um teste. Foi quando fiz meu teste de elenco junto com outras sete garotas, tudo de forma online. Em janeiro de 2023, foi quando anunciaram quem tinha sido aprovada e eu fui das contempladas junto com as outras meninas.”

Ela conta ainda que protagonizar esse papel não é uma honra e muito menos um privilégio para os indígenas fazerem. Ellie frisou
“Era uma coisa que já era para ser nossa desde o início, isso é muito óbvio de estar assistindo um personagem indígena, então você quer ver um indígena ali na cena. Você não quer ver um não-indígena. Porque isso é até um desrespeito. Porque tudo isso é um direito nosso. Eu me sinto muito feliz por representar meu povo e isso é a melhor coisa de eu poder dar visibilidade através da gente mesmo."
Mesmo fazendo várias tarefas ao mesmo tempo, Ellie Makuxi não deixou seu lado ativista de lado. Em abril, esteve participando ativamente da maior mobilização nacional dos povos indígenas, o Acampamento Terra Livre (ATL), que em Brasília ocorreu a 19ª edição e em Roraima foi a quarta vez da sua realização. A jovem fez participação em duas pautas do evento: Mulheres indígenas – a luta contra a violência; e Movimento Cultural Indígena de Roraima – arte, luta e resistência. Finalizou dizendo
“A importância do ATL é que nós estejamos lá somando forças, para que as nossas demandas sejam escutadas e vistas por aquela sociedade que não enxerga ou muitas vezes enxerga e finge que não vê, mas estamos ali expondo. Foi o que aconteceu no Ato realizado pelo Movimento no monumento do garimpeiro, aquela tinta vermelha representando o sangue, muitas pessoas estão vendo aquilo. Toda essa luta e essa forma de representar o quanto que os povos indígenas sofrem. Tudo isso é uma forma diferente, a gente procura estratégias para que as pessoas entendam o que está acontecendo no território indígena, com as mulheres e a população indígena no geral”.





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